A Bíblia

sexta-feira, 13 de março de 2009

Coluna Litúrgica
Os Símbolos na Liturgia


A Constituição do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia "Sacrosanctum Concilium" descreve no nº 07 a liturgia como o "exercício do sacerdócio de Jesus Cristo... mediante os sinais sensíveis". No nº 59, a mesma Constituição diz que "os sacramentos ... enquanto sinais... não só supõem a fé, mas a seu modo, a alimentam, a robustecem e a expressam por meio de palavras e coisas". No nº 33 se diz: "os mesmos sinais visíveis que usa a sagrada litur­gia foram escolhidos por Cristo ou pela Igreja para significar realidades divinas invisíveis". No número seguinte lemos: "os ritos devem ser breves, claros, evitando as repetições inúteis, adaptados à capacidade dos fiéis e, em geral, não devem ter necessidade de muitas explicações".

O símbolo ajuda ao homem a explicar o mundo, sobretudo o mundo espiritual. Dirige o espírito ao desconhecido, o inexplicado e, talvez, o inexplicável. Também o entendimento tem esta missão. Mas, muitas vezes, o conhecimento simbólico vai mais além daquilo que só pode ser captado através de conceitos e afirmações racionais.

O símbolo tem uma função mediadora entre o consciente e o inconsciente, entre o espírito e a matéria, entre a natureza e a cultura, entre o sonho e a realidade, entre a terra e o céu.
O símbolo une. Leva da dispersão à unificação, do vazio à plenitude, do superficial à profundidade. O símbolo forma e sustenta comunidade e comunhão. Um grupo pode reconhecer-se mediante os seus símbolos. O grupo pode crescer com a ajuda dos seus símbolos. O símbolo orienta até o transcendente. O símbolo pode transformar ao homem que vive com ele e no mundo dele. O símbolo parte do passado e impulsiona para o futuro. Não tem somente uma função retrospectiva, mas também prospectiva que ajuda a passar do estático ao dinâmico realizando transformações.

A função transformadora do símbolo nos leva a constatar que o símbolo recorda o passado individual e comunitário; ajuda ao homem a atualizar o passado e torná-lo frutuoso para si; é um desafio para o presente. Os símbolos mortos não têm valor para nós, mas o símbolo vivo atua no presente. Exige uma tomada de posição e conseqüências concretas; constitui uma esperança em vista do futuro. Atrai a todos nós e nos ajuda no processo de amadurecimento.

Fonte: Jornal Diocesano No Meio de Nós - Informativo da Diocese de Marília (SP) - Ano X - Nº 111 - Novembro/2007
Coluna Litúrgica
Os Cantos na Celebração

Os fiéis que participam ou buscam participar de celebrações litúrgicas, em paróquias diversas, podem observar como os cantos, propostos a toda a comunidade, ou executados por um grupo ou por um solista, muitas vezes não correspondem, em vários pontos, às exigências da autêntica celebração litúrgica.

A conversa com os pastores e com outros ministros, ordenados ou não, dessas paróquias, permite também perceber que essas pessoas, de modo geral, nem se dão conta de que, ao invés de proporcionarem, aos fiéis, em geral, celebrações autênticas, formadoras, significativas e efetivamente participadas com consciência, vão, pelo contrário, permitindo que essas celebrações fiquem restritas a espetáculos (às vezes demorados), nos quais a participação da comunidade na verdade não ocorre, ou limitadas a orquestrações do povo em manifestações nas quais o sentido do sagrado é sepultado por uma torrente mundana.

Alguns, entretanto, diante de um comentário a respeito de tal ou qual ponto da celebração, manifestam sua surpresa, ao saberem que foi contrariado algum dos princípios que a Igreja, no último Concílio Ecumênico, explicitou como fundamentais da Liturgia.

Outro ponto que às vezes é questionado é a multiplicidade de cantos que são propostos nos folhetos preparados por editoras, dioceses ou paróquias, visando à participação do povo; a cada série de folhetos propõem-se cantos novos: quando esses começam a ser aprendidos, já vêm outros. O canto termina sendo fator de alienação, ao invés de ser fator de participação. Isso provavelmente não ocorreria, se fossem respeitadas as orientações normativas da Igreja sobre a matéria.
A diversidade de modos de celebração, por outro lado, resulta em perplexidades para não poucos fiéis, os quais comentam que na paróquia tal fazem assim, na outra fazem de outro modo, por que não fazer diferente, etc. Essa perplexidade atinge, não raro, os componentes de coros, que reclamam, quando o regente do coral não quer que os cantores cantem sozinhos, ou então o bispo ou presbítero, que presidirá à celebração, veda a execução de certos cantos ou o canto em certos momentos.
Ocorreu-nos, assim, – com o objetivo precisamente de esclarecer e orientar aqueles que, na verdade, com o espírito de obediência cristã, a qual caracteriza o fiel comprometido, desejam dar a sua contribuição a uma Liturgia viva, consciente, autêntica, edificante, exemplar – apresentar como está atualmente disciplinada a matéria dos cantos na celebração eucarística.
Ora, a regulamentação da Sagrada Liturgia é da competência exclusiva da autoridade da Igreja. Essa autoridade cabe à Santa Sé Apostólica e, segundo as normas do Direito, ao Bispo, e também, às Conferências Episcopais. Portanto, jamais alguém outro, ainda que sacerdote, acrescente, tire ou mude por conta própria qualquer coisa à Liturgia (SC 22).

Fonte: Jornal Diocesano No Meio de Nós - Informativo da Diocese de Marília (SP) - Ano IX - Nº 96 - Agosto/2006
O que é o Dízimo?


O Dízimo é uma contribuição voluntária, regular, periódica e proporcional aos rendimentos auferidos, que todo batizado deve assumir como sua obrigação - mas também seu direito - em relação à manutenção da vida da Igreja local onde participa.

O Dízimo, sendo uma contribuição regular, periódica e proporcional ao ganho de cada dizimista, deve ser entregue na comunidade com a mesma regularidade que acontece o recebimento desses ganhos, que, normalmente, costumam ser mensais. O Dízimo pertence a Deus e é no Templo que deve ser entregue, ou seja, na nossa Paróquia onde participamos regularmente: "Então, ao lugar que o Senhor, vosso Deus, escolheu para estabelecer nele o seu nome, ali levareis todas as coisas que vos ordeno: vossos holocaustos, vossos sacrifícios, vossos dízimos, vossas primícias e todas as ofertas escolhidas que tiverdes prometido por voto ao Senhor". (Dt 12,11s). Levar um auxílio a um pobre, fazer um donativo a uma instituição beneficente são obras muito boas e agradáveis a Deus mas não são Dízimos e não nos isentam de contribuir com o Dízimo.

O Mesmo ocorre com a oferta feita na Santa Missa, no momento do ofertório. A liturgia prevê ser esse um momento em que somos convidados a oferecer os nossos dons diante do altar do Senhor e nesse momento ninguém deve comparecer de mãos vazias (cf Dt 16,10.15-17). Oferecemos o que trazemos em nosso íntimo e também fazemos a nossa oferenda material. Não participar desse momento especial da liturgia é não participar da Missa plenamente. Mas quando fazemos a nossa oferta na Missa não estamos isentos de contribuirmos com o nosso Dízimo e nem mesmo de darmos esmolas e praticar outras obras de caridade.

Muitas pessoas não são dizimistas porque acham que falar ou pensar em oferta ou dizimo, é pensar em dinheiro e que a Igreja e as comunidades não devem pensar no lado das riquezas. Dízimo e dinheiro, não são as mesmas coisas. Para dar dinheiro, basta tê-lo. Para dar "devolver" o dízimo é preciso ter fé, ser conscientizado; estar inserido numa caminhada cristã; na vida da Igreja, ter participação na vida comunitária, isto é viver a vida cristã numa comunidade. Dinheiro eu entrego na Igreja. Dízimo me leva à Igreja. Quem pensa assim, não entendeu a prosperidade de Deus. Eu posso ser rico e não ser próspero. Próspero é aquele que não faz do dinheiro, o seu Deus, mas coloca Deus no seu lugar.

O dízimo e a comunidade nos educam ao amor, à generosidade e a partilha. Isso muda o nosso modo de ver as coisas. Colaboramos “devolvemos”, o dízimo porque vemos o que ele produz em nós, na vida da comunidade e do próximo.

Recebendo de Deus os dons da graça, da paz, da prosperidade, percebemos e vemos que o dinheiro faz parte da nossa vida, da comunidade e da Igreja. Assim nos tornamos dizimistas, porque acreditamos na Palavra de Deus, em nossa comunidade principalmente pelo testemunho e por tudo aquilo que realiza em torno das obras do Senhor.

Juntamente com doação das ofertas, o dízimo ajuda a construir a Igreja Viva. E, do dizimo deve vir os maiores recursos. A comunidade deve levar o dizimo a atender Três Dimensões: Religiosa, Missionária e Social.
Fonte: Blog da Paróquia Sagrada Família de Lucélia (SP)
A Equipe do Dizimo
Dízimo
O que é ser Dizimista?


Ser dizimista é ajudar a construí uma comunidade viva e manter vivo o espírito dos apóstolos quando iniciaram as primeiras comunidades (At 2,42-47).

Sendo dizimista renovamos o compromisso do batismo e com a Igreja. Todo cristão consciente participa e partilha com o próximo as graças e bênçãos que Deus lhe deu.

Se quisermos uma comunidade (sociedade) melhor, onde haja crescimento em fraternidade, solidariedade e partilha, devemos mudar nossa maneira de agir e penar em relação ao dizimo.
Ser dizimista é viver os preceitos que Deus nos transmitiu. É o nosso compromisso, nossa fidelidade aos ensinamentos do nosso Mestre Jesus, que veio para aperfeiçoar as leis, dando-nos exemplos como o de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Ser dizimista é devolver a Deus o que Lhe pertence.

Sendo dizimista estou comprometido com a minha comunidade, concretizando a minha fé, pois dizimo é gesto de amor, é ato de fidelidade e de fé.

Consciente e imbuído do Espírito de Deus, converto-me. E, assim, posso dizer: sou católico e dizimista graças a Deus.

Dízimo
Para onde vai o dinheiro do Dízimo?

Após a responsável e amorosa contribuição financeira de cada dizimista, surge a pergunta: para onde vai o dinheiro?
O valor arrecadado é aplicado nas três dimensões pastorais: A DIMENSÃO RELIGIOSA, A DIMENSÃO SOCIAL e a DIMENSÃO MISSIONÁRIA.
Na dimensão religiosa, que é a mais diretamente ligada ao culto, o dizimo destina-se à manutenção do tempo – água, luz, telefone, material de limpeza – e às despesas do altar com vinho, hóstias, velas, flores, além dos salários do padre e dos empregados.
"Pagai integralmente os dízimos ao tesouro do tempo para que haja alimento em minha casa" (Mal 3,10a).
Na dimensão SOCIAL, o dizimo contribui para assistir, por meio das pastorais sociais, as necessidades dos irmãos que têm dificuldades financeiras, doenças, desemprego, etc. "Não amemos só com palavras, mas com obras e de verdade..." (IJo 3,18).
Na dimensão MISSIONÁRIA, o dizimo sustenta a evangelização fora do território da Paróquia e mesmo fora do Pais. É por isso que cada Paróquia faz sua contribuição à Cúria Diocesana e ao Seminário para formação de sacerdotes.
"Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15).
ORAÇÃO DO DIZIMISTA

“Recebei, Senhor, nosso Dízimo! Não é esmola, porque não sois mendigo.Não é uma simples contribuição, porque não precisais dela.Esta importância representa, Senhor, nosso reconhecimento, amor e participação na vida da comunidade,pois o que temos, recebemos de vós. Amém!”

sábado, 7 de março de 2009


O que é a Bíblia?





- Inspiração

"A Bíblia é o conjunto de livros que, tendo sido escritos sob a inspiração do Espirito Santo, têm Deus como autor, e como tais foram entregues à Igreja".
Definição do Concilio Vaticano II
Inspiração
Um dos principais conceitos a ser examinado para uma melhor compreensão da Bíblia é o de inspiração. O que significa dizer que os livros bíblicos são inspirados, de onde vem esta inspiração, até que ponto o que é escrito representa a mensagem de Deus ou do hagiógrafo (escritor sagrado)? Ao longo da história, os estudiosos procuraram esclarecer este conceito básico e, é claro, sempre houve divergências entre eles. Apresentamos aqui algumas reflexões sobre este importante conceito.
Na inspiração distinguimos dois aspectos: dogmático e especulativo.
O dogmático pode ser expresso como resposta à pergunta: por que acreditamos que a Bíblia é um livro inspirado? Isto não se pode provar pela própria Bíblia. Busca-se então provar pelo fundamento histórico. Os evangelhos, por exemplo, são históricos. Há uma tradição desde os tempos dos Apóstolos que cita a Escritura como autoridade divina ( Mt 1, 22; Mt 22, 31; Mc 7,10; Jo 10, 35; At 1,16; Lc 22, 37; Heb 3, 7; 10,15 ). Em 2Tim 3,16, aparece pela primeira vez a palavra 'theopneustos', ou seja, inspirada por Deus.
O especulativo pode ser expresso como resposta à pergunta: em que consiste a inspiração? Este é mais complicado e será exposto com mais detalhes.
a) Modo da inspiração
É muito discutido o modo como se dá a inspiração do escritor sagrado. Bañez afirmou que era um ditado. Mas em II Mac 2, 19-23, o autor se refere a um resumo de 5 livros em um só, cujo resumo lhe custou "suores e noites de vigília". Como é que foi um ditado se houve o esforço dele para elaborar a síntese? Do mesmo modo Lucas (Lc l,1) escreve: "depois de haver diligentemente investigado tudo desde o principio, resolvi escrever... ", logo não foi simplesmente um 'ditado' da parte de Deus.
Em reação à teoria do ditado veio outra que disse o contrário: a inspiração é a aprovação que a Igreja dá ao livro. O fato estar colocado no cânon é a garantia da própria inspiração. Esta tese foi defendida por poucos e não teve grande aceitação nos meios católicos.
O Cardeal Franzelin propôs uma nova fórmula: nem tudo é de Deus nem tudo é do homem, mas as idéias são de Deus e as palavras são do homem. Obteve um certo sucesso, mas ainda não explicou de todo. Sto. Tomás de Aquino propusera a teoria da "causa instrumental": são os dois ao mesmo tempo - Deus e o Homem. Ambos estão presentes em toda a obra, Um é o autor principal e o outro o autor secundário. A inspiração eleva, sublima as faculdades do autor. Pode até ser admitida esta teoria, entretanto, convém lembrar que tudo que está na Bíblia é inspirado, embora nem tudo seja revelado.
b) Funcionamento psicológico da inspiração
Em II Mac, conforme mencionado acima, o autor se refere a um resumo do livro que um certo Jazão escreveu. De 5 volumes ele reduziu a um só. Como dizer que isto é palavra inspirada por Deus, como se explica aí a inspiração divina?
Comecemos por analisar as operações do intelecto: apreensão, juízo e raciocínio. Elas seguem um grau de aprofundamento e refinamento do saber. Pode-se ter uma inspiração de Deus logo no primeiro momento (na apreensão), como se pode ter depois, no juízo ou também nos dois. Quando a inspiração é logo na apreensão, se diz 'revelação'. Quando, como no caso do II Mac, a apreensão é do autor, a inspiração se dá no segundo momento, ou seja, no juízo, enquanto na apreciação que ele faz da obra está sendo iluminado pelo Espírito Santo. Na confecção destes livros, a questão da inspiração é que o autor estava iluminado pelo Espirito Santo para dizer o fato corretamente, sem poder errar no julgamento. Embora ele não esteja consciente disso, a ação do Espírito Santo está sendo exercida no seu intelecto.
Mas, pode-se questionar: como se sabe se ele foi ou não inspirado quando nem ele mesmo pode perceber isso? Aí passa a ser uma questão de fé. Tenta-se explicar o fato, mas não se afirma que seja assim. 0 discernir se o livro é ou não inspirado, dado o que acontece com o autor, é alçada da Igreja, que também é inspirada pelo Espírito Santo. É uma questão fundamentalmente de fé.
Por isso, para a definição do livros autênticos, reconhecidos pela Igreja Católica, os Cânones foram aprovados em Concílios, nos quais se discutiram certas dúvidas a respeito de alguns livros, se eram ou não inspirados. Nas discussões, procurou-se ver na historia da Igreja, desde os cristãos primitivos até aquela época, quais os livros que durante os séculos sempre foram lidos nas Igrejas e, baseada no consenso, ela constituiu o cânon. Sem dúvida, a tradição antiga é mais fidedigna, pois está mais próxima dos tempos apostólicos.
Mas, voltando ao conceito do juízo, ele pode ser especulativo ou prático. Especulativo quando tem por fim o verdadeiro; prático guando tem por fim o bem. No caso de Jonas, por exemplo, o juízo do autor não foi especulativo, mas prático. Jonas teve o sonho em que Deus o mandava pregar em Nínive. Ora, raciocinou ele, Javé é Deus de Israel, e não deve ser falado aos pagãos. Então tomou o navio para outro lugar, e aí entra a história da baleia... A finalidade do autor era convencer a todos que Javé era o Deus universal, contra uma certa corrente judia que negava fato, ou melhor, não gostava da idéia.
Para se entender cada página da Bíblia deve-se ter em mente a finalidade, a intenção do autor ao escrever cada parte do livro. Não se pode abrir o livro em qualquer parte e ler tudo com o mesmo espirito. Na antiga concepção de inspiração (ditado) não se considerava este problema. Tudo que lá estava se acreditava "ao pé da letra". Não se podia duvidar. Mas esta é hoje uma prática mais comum em algumas igrejas protestantes, geralmente praticada por pessoas com conhecimentos teológicos limitados e reducionistas.
Uma conseqüência direta da inspiração é o dom da inerrância. Se o livro é inspirado, logo o que contém é verdade. Porém esta verdade não está ali imediatamente evidente, ela precisa ser alcançada pela reflexão animada pela fé, ou seja, a razão e a fé ajudando-se mutuamente.
INTRODUÇÃO GERAL


A Sagrada Escritura é o conjunto dos livros escritos por inspiração divina, nos quais Deus se revela a si mesmo e nos dá a conhecer o mistério da sua vontade. Divide-se em duas grandes secções: ANTIGO TESTAMENTO, que contém a revelação feita por Deus antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo; NOVO TESTAMENTO, que contém a revelação feita directamente por Jesus Cristo e transmitida pelos Apóstolos e outros autores sagrados.A SAGRADA ESCRITURA, PALAVRA DE DEUS AOS HOMENSDeus falou aos homens através de outros homens por Ele escolhidos para esse fim, mas sobretudo por meio de seu Filho, Jesus Cristo (Heb 1,1-2).

Desse modo, a Palavra de Deus tornou-se linguagem humana sem deixar de ser Palavra de Deus, assim como o Filho de Deus se fez homem sem deixar de ser Deus; e sujeitou-se, tal como Ele, às limitações e condicionamentos da palavra humana, excepto no erro formal. Tais condicionamentos são: Condicionamentos de tempo Os livros da Bíblia são fruto do seu tempo. Por isso, se quisermos entender a mensagem de Deus, temos de conhecer o tempo e as circunstâncias históricas em que foi escrito cada um deles.Condicionamentos de espaço Os livros da Bíblia nasceram em vários lugares geográficos, cada qual com o seu ambiente próprio: uns na Palestina, outros no mundo helénico e outros no Império Romano. E um livro também é filho do meio em que nasceu.Condicionamentos de raça.

Os livros da Bíblia procedem quase todos do povo semita, mais concretamente do povo judeu, que tem um modo de pensar e de se exprimir muito diferente do nosso. É preciso conhecê-lo, para entender a Palavra de Deus.Condicionamentos de cultura Os livros da Bíblia são obra de muitos autores com mentalidade e cultura diferentes, às vezes distanciados entre si por vários séculos. Tudo isso marcou a Bíblia e deve ser tido em conta, pois os autores sagrados, embora escrevessem sob inspiração de Deus, não foram privados da sua personalidade.


TRANSMISSÃO DA PALAVRA DE DEUS.

A Palavra de Deus, no Antigo Testamento, revelou-se através da Tradição e da Sagrada Escritura. Com Cristo, Palavra em pessoa, começa uma nova Revelação: o Evangelho. Os transmissores desta nova Palavra são os Apóstolos, que dão origem à Tradição Apostólica. Os Evangelistas, mais tarde, inspirados pelo Espírito Santo, recolhem e fixam essa Tradição por escrito, dando assim origem à Sagrada Escritura do Novo Testamento. Por isso, diz o concílio Vaticano II: "A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando elas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim." (Dei Verbum, 9)INSPIRAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA A Inspiração é o que caracteriza e essencialmente distingue a Bíblia de todos os outros livros humanos. Acreditar na Inspiração da Sagrada Escritura foi sempre um dogma de fé para os Judeus e para a Igreja. Os Judeus dividiam a Bíblia em três partes: a Lei (Torá), que era considerada a Palavra de Deus por excelência; os Profetas (Nebi'îm), que falaram em nome de Deus; e os Escritos (Ketubîm), formando todos juntos os "Livros santos" (1 Mac 12,9). Jesus Cristo e os Apóstolos citaram-nos como Palavra de Deus (Act 1,16; 4,25). Mas São Paulo e São Pedro é que nos transmitem os dois textos clássicos sobre esta verdade. Paulo diz: "Toda a Escritura é divinamente inspirada" (theopneustos: 2 Tm 3,14-17); e Pedro afirma: "Mas sabei, antes de mais, que nenhuma profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito Santo, é que os homens santos falaram em nome de Deus." (2 Pe 1,21) Os Santos Padres também são unânimes em afirmar que Deus é o autor da Sagrada Escritura e que o hagiógrafo é instrumento de Deus. E a Igreja manifestou a sua fé nesta verdade em vários concílios e documentos. O último e o mais expressivo é a constituição dogmática Dei Verbum (DV), do concílio Vaticano II, que diz: "As coisas reveladas por Deus que se encontram escritas na Sagrada Escritura foram consignadas por inspiração do Espírito Santo." E mais adiante, falando da natureza desta inspiração, acrescenta: "porque escritos por inspiração do Espírito Santo, têm a Deus por autor e, como tais, foram confiados à Igreja. Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades para que, agindo Deus neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria." (n.° 11) Portanto, segundo a constituição Dei Verbum, os livros sagrados são produto da acção transcendente de Deus que suscita, dirige e envolve inteiramente a actividade humana, agindo em constante coordenação com ela. Esta acção divina estendeu-se a todas as faculdades e actos do homem que concorreram para a produção dos livros santos, e abrange todas as partes dos livros e todos os géneros literários que neles se encontram. No entanto, longe de tornar o hagiógrafo passivo, tal acção favorece a sua livre espontaneidade; porque o homem é tanto mais livre e activo quanto mais o Espírito Santo o acompanha. Deus, quando actua no homem, fá-lo sempre com suma delicadeza, respeitando a sua liberdade e a sua maneira de ser, mas valorizando-as e potenciando-as. A Bíblia não é, pois, fruto de um ditado mecânico, mas uma obra em que Deus e o homem intervêm: Deus com as suas perfeições infinitas, e o homem com as suas faculdades e conforme a sua capacidade. Por isso, os dois são verdadeiros autores dos livros sagrados.


A VERDADE DA SAGRADA ESCRITURA Diz também a Dei Verbum: "E assim como tudo quanto afirmam os autores inspirados ou hagiógrafos deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve aceitar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse consignada nas Sagradas Letras." (DV, 11)A verdade da Bíblia é a consequência imediata da Inspiração. Com efeito, se Deus é o autor da Bíblia, se toda ela é obra do Espírito Santo, não pode conter qualquer afirmação que vá contra a verdade e a santidade do mesmo Deus. No entanto, não podemos buscar na Bíblia qualquer verdade, mas só a que interessa à salvação do homem, ou seja, a verdade religiosa, e só aquela que Deus, causa da nossa salvação, quis que fosse registada nas Escrituras. Trata-se de uma verdade não puramente especulativa, mas concreta, que não se dirige apenas à inteligência, mas ao homem todo; uma verdade que é preciso descobrir através dos muitos e variados géneros literários; uma verdade progressiva, revelada por etapas, obedecendo à pedagogia de Deus em relação aos homens; uma verdade que está em toda a Bíblia e não apenas num livro ou num texto isolado. Por isso, a verdade dos textos sagrados só resulta da totalidade da Bíblia, como a santidade da Igreja resulta do conjunto dos baptizados e não de cada um individualmente.


A INTERPRETAÇÃO DA SAGRADA ESCRITURA "Porque Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e o que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras." (DV, 12)Para esse fim, o Vaticano II lembra que é preciso ter em conta os géneros literários, os sentidos bíblicos e certas regras teológicas de interpretação.Os géneros literários. A verdade é proposta e expressa de um modo ou de outro, conforme se trate de géneros históricos, proféticos, poéticos, etc. Estes géneros devem ser entendidos como os entenderam os povos semitas ou helenistas, no tempo em que foi escrito cada um dos livros (DV, 12).Os sentidos bíblicos. Tradicionalmente, têm-se distinguido na Bíblia os sentidos seguintes: literal, pleno, típico e acomodatício.O Sentido literal é aquele que o autor quis dar ao texto. Pode ser próprio e impróprio, figurado ou metafórico. O próprio é aquele em que as palavras são tomadas no seu significado corrente; o impróprio é aquele em que as palavras são tomadas no sentido conotativo ou figurado, por exemplo: "Vós sois o sal da terra." (Mt 5,13)O Sentido pleno é o significado mais profundo do texto; sendo inicialmente pretendido pelo autor divino, só se descobre à luz de uma revelação posterior, especialmente à luz do Novo Testamento. Este sentido resulta do facto de a Bíblia ter dois autores: Deus, para quem o futuro é presente, e que, ao inspirar um determinado texto, já conhece toda a revelação posterior nele implícita; e o hagiógrafo ou autor humano, que apenas conhece e tem presente o mistério que Deus quer revelar nesse determinado momento histórico da escrita. Exemplo claro disto são as profecias messiânicas do Antigo Testamento: para nós são claras, porque o Messias já veio; mas o significado que hoje lhes atribuímos não foi atingido plenamente pelo autor sagrado, e só Deus o teve presente desde o princípio.O Sentido típico dá-se quando certos acontecimentos, instituições, pessoas, etc., por vontade de Deus, representam e prefiguram acontecimentos, instituições e pessoas de ordem superior. Assim, a serpente de bronze erguida por Moisés (Nm 21,8-9) é figura de Cristo crucificado (ver Jo 3,14); a passagem do Mar Vermelho (Ex 14,22) é figura do Baptismo (1 Cor 10,2); o maná (Ex 16,14) é figura da Eucaristia (Jo 6).O Sentido acomodatício consiste em dar às palavras da Sagrada Escritura um sentido diferente daquele que o autor lhes quis dar, devido a uma certa semelhança entre a passagem bíblica e a sua aplicação. Este sentido é muito usado na liturgia e na pregação. Temos um exemplo claro nas festas de Nossa Senhora, em que a Liturgia relaciona com a Virgem Maria textos que se referem à sabedoria divina (Pr 8,22-36; Sir 24,14-16). Regras teológicas de interpretação. Além do já aduzido, o Concílio aponta estes princípios que devem reger a interpretação da Sagrada Escritura: "A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita" (DV,12); ou seja: o mesmo Espírito que inspirou os livros santos deve iluminar os teólogos que, docilmente e com espírito de fé, se dedicam a interpretá-los. Cabe aos exegetas, "de harmonia com estas regras, esforçar-se por entender e expor mais profundamente o sentido da Escritura, para que, mercê deste estudo preparatório, vá amadurecendo o juízo da Igreja." A função dos exegetas é preparar e não substituir o juízo último da Igreja, pois só esta "goza do divino mandato e do ministério de guardar e interpretar a Palavra de Deus" (DV,12).


OS LIVROS DA SAGRADA ESCRITURA

Os livros da Sagrada Escritura, tanto do Antigo como do Novo Testamento, agrupam-se em três conjuntos: históricos, sapienciais e proféticos, conforme o género literário que neles predomina (Ver p. 2135-2136).Nesta obra, cada conjunto e cada livro são precedidos de uma Introdução. Nela são dadas todas as informações necessárias para enquadrar o texto no seu contexto histórico, geográfico e literário e se apontam os seus objectivos e a sua mensagem teológica.


UNIÃO DO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO

O Antigo Testamento é a história da revelação de Deus ao povo de Israel, narrada e explicada pelos autores sagrados e escrita nos livros da Antiga Aliança, como verdadeira Palavra de Deus. Estava orientado, "sobretudo, a preparar, a anunciar profeticamente e a significar com várias figuras a vinda de Cristo, Redentor universal, e a do Reino messiânico" (DV,15). Embora a sua missão fosse preparar o povo de Israel para a vinda de Cristo, mantém esse mesmo sentido para os homens de hoje. "A Lei (AT) foi nosso pedagogo para nos conduzir a Cristo" (Gl 3,24). A experiência do povo de Israel é útil também para quem continua à procura de Cristo. Todos temos necessidade de nos preparar para os novos adventos de Cristo, que se realizam na Liturgia e na vida cristã, rumo à Parusia do Senhor.O Antigo Testamento dá-nos a conhecer Deus e o ser humano e o modo como Deus se relaciona com o homem e a mulher. Porque esse conhecimento está adaptado às pessoas a quem se dirige, no Antigo Testamento encontram--se "imperfeições e coisas restritas a um tempo determinado." Realmente, Deus tolerou modos imperfeitos de observar a lei moral: poligamia, divórcio, vingança, etc. Mas isso manifesta a pedagogia divina, que vai conduzindo o povo do imperfeito ao mais perfeito. Por isso, o Antigo Testamento conduz à perfeição do Novo Testamento.Para além disso, o Antigo Testamento já exprime um vivo sentido de Deus, contém doutrinas preciosas sobre Deus e a sua transcendência, sobre a criação, sobre o ser humano enquanto imagem de Deus, sobre a Providência, etc.; e oferece-nos um tesouro admirável de orações. Por isso, "os cristãos devem aceitar devotamente esses mesmos livros", como raiz do Novo Testamento e do Cristianismo (DV,15).


A SAGRADA ESCRITURA NA IGREJA

A constituição Dei Verbum diz que "a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras a par com o próprio Corpo de Cristo"; que sempre as considerou e continua a considerar, juntamente com a Sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; e, por último, chama-lhes "a fonte pura e perene da vida espiritual" (n.° 21).Mas, para ser realmente a fonte da vida espiritual, é preciso que a Bíblia volte a ser "a alma da teologia", da pregação, da pastoral, da catequese e de toda a instrução cristã (DV, 24). Que todos, sacerdotes, religiosos e fiéis mantenham um contacto íntimo e constante com os Livros sagrados através da leitura assídua, do estudo e da meditação. "Porque desconhecer as Escrituras é desconhecer a Cristo" (São Jerónimo). Para isso, são precisas traduções acompanhadas das notas explicativas correspondentes, em todas as línguas vivas, para que cada um as possa ler na sua língua materna (DV, 25). Para estar cada vez mais em consonância com esta doutrina da Igreja, e porque as ciências bíblicas e da linguagem evoluem, é que a DIFUSORA BÍBLICA meteu ombros a esta edição da Bíblia Sagrada, profundamente revista e actualizada tanto na versão do texto como nas introduções e notas.


COMO UTILIZAR ESTA BÍBLIA

Seguem-se algumas sugestões que ajudam os leitores a tirarem o máximo proveito dos vários subsídios incluídos nesta edição da Bíblia Sagrada.Divisão da Bíblia. Tanto o Antigo como o Novo Testamento dividem-se em livros e estes, em capítulos; mas, para encontrar uma simples frase na Bíblia, os capítulos estão divididos em versículos (v.), muitas vezes formados apenas por uma frase. O capítulo aparece destacado, em algarismos maiores, no início do texto; a numeração dos versículos encontra-se, em algarismos mais reduzidos, no interior do texto. Na cabeça da página está indicado ao centro, o nome do livro por extenso; no ângulo exterior, esse nome em abreviatura e o número do capítulo ou capítulos correspondentes a essa página, por exemplo: Dt 3, correspondente ao capítulo 3 do livro do Deuteronómio.

Para entender uma citação bíblica

A ordem dos elementos é: o nome do livro em abreviatura, o número do capítulo e o número do versículo. Assim, Mt 5,12 corresponde ao Evangelho segundo São Mateus, capítulo 5, versículo 12. Se o livro só tiver um capítulo, aparece apenas o livro e o versículo. Assim, 2 Jo 12 para indicar 2.ª Carta de João, versículo 12. Quando são citados vários versículos ou capítulos seguidos, estão unidos por um hífen: Mt 5,12-17 (Mateus, capítulo 5, versículos 12 a 17); Mt 5-6 (Mateus, capítulos 5 e 6); Mt 5,20-6,13 (Mateus do capítulo 5, versículo 20 ao capítulo 6, versículo 13, sem qualquer interrupção). Quando são citados vários versículos do mesmo capítulo, mas não todos seguidos, ficam separados por um ponto: Mt 5,12.14-17 (a citação pára no v.12 e continua do v.14 ao 17 inclusive, não incluindo o versículo 13). Se forem citados diferentes capítulos do mesmo livro, tais capítulos vão separados por um ponto e vírgula mas não é repetido o nome do livro: Mt 5,12.21-23; 6,1-8 (Mateus, capítulo 5, versículo 12 e também do v. 21 a 23 inclusive; e ainda o capítulo 6, do versículo 1 a 8 inclusive). Como se pode ver, a vírgula vai sempre depois do capítulo, a separá-lo dos versículos.